Rita Andrews | Directora de eventos (Glastonbury)
No início, disseram-nos, era necessário salvaguardar o serviço nacional de saúde, era preciso ficar em casa. Foi há quase um ano que o Governo britânico nos disse isso. E era por apenas três semanas, de modo a não saturar os hospitais. Sei que o mesmo foi dito, mais ou menos assim, em Portugal.
Neste momento estamos ainda todos em casa… Em Portugal também. E está para continuar.
No Reino Unido, o último ano tem sido um timeline cheio de decisões complicadas – garante-nos Boris Johnson –, desde o sistema track and trace, que nunca funcionou, aos bilions de libras em contratos adjudicados a empresas sem histórico de prestação de serviços de saúde. Tivemos ainda direito a partes gagas: há uns meses, o principal advisor do Primeiro-Ministro foi apanhado numa série de mentiras: basicamente, não cumpriu as regras que ele próprio ajudara a criar… Isto foi ainda no início, na Primavera, e nada contribuiu para um tratamento sério da pandemia.
No princípio do Verão de 2020, e numa tentativa para recuperar a Economia, que se estava a afundar, o ministro das Finanças teve uma ideia – tem havido muitas: o esquema ‘Eat out to help out’ foi uma delas. Deu para o torto. Durante o mês de Agosto, o Governo prometeu pagar metade das refeições em qualquer estabelecimento entre as terças e as quintas-feiras. Resultado: tudo quanto era restaurante e pub andou a rebentar pelas costuras naqueles dias. Adeus, distanciamento social. Ainda me lembro de ir jantar certa noite ao restaurante tailandês perto de casa, e quando de repente saiu um fumo picante da cozinha, toda a sala, a abarrotar, se encheu de tosses violentas.
A testagem também tem disso uma área complicada. Ou anedótica. Ou graves, a juntar-se às dúvidas da comunidade científica sobre o seu rigor e eficácia. Deixo aqui alguns casos: i) foram comprados 3.5 milhões de testes que nunca foram usados, pois não passaram o quality certification; ii) inúmeras situações de testes trocados e/ou utilizados diversas vezes em várias pessoas; iii) milhares de testes – mais concretamente, nove mil – feitos a estudantes da Universidade de Cambridge, tendo todos os casos positivos sido considerados falsos positivos num segundo teste.
E tem sido ao som dos testes – e das mortes supostamente atribuídas à covid-19, cujos critérios levam a que seja, daqui a nada, quase impossível morrer de outra coisa que não da nova doença – que a nossa vida em 2021 continua. Uma vida quotidiana que corre agora desajustada: está agora tudo fechado, não há uma loja ou café aberto, não há cinemas, parques infantis, escolas, ginásios, piscinas, nada, nada aberto. Só não temos curfew, ou seja, recolher obrigatório – mas, enfim, grande benefício: não há para onde ir. No Reino Unido só não temos o policiamento como sei que há em Portugal, mas também ignoro aquilo que aconteceria que houvesse ajuntamentos. Vivo numa cidade pequena onde nada se passa… Enfim, apenas sei que, para contrariar tudo isto, agora quase toda a gente tem cachorros, toda a gente tem um cão para espairecer um pouco, e não enlouquecer. Ou tentar não enlouquecer…
No ano passado, todos tínhamos o ano cheio de planos antes de entrarmos neste circuito: férias, casamentos, jantarada… Fomos cancelando conforme nos impuseram.
Este ano começámos 2021 com nada no diário. E esta falta de esperança, mais do que esta doença, afecta todos. Nem sequer sei quando vou poder regressar a Portugal, visitar a minha mãe, porque ser-me-iam impostas restrições férreas. Tenho, como quase todos, a vida suspensa. E isso não é vida.