Pedro Almeida Vieira | Engenheiro Biofísico e Economista
Sou a favor das vacinas. Até porque, por ainda não estar vacinado, em 1970 tive tosse convulsa, e quase “lerpei”. Nessa altura, em Portugal a taxa de mortalidade infantil era de 56 óbitos por mil; hoje não chega aos 3 óbitos por mil. Em grande parte, esta fabulosa evolução provém dos programas de vacinação.
É hoje por demais evidente que muitas doenças podem ser controladas com vacinação. Na verdade, o problema maior da eficácia das vacinas que actualmente estão no mercado não é os efeitos secundários; são outros. Existem atrasos inqualificáveis nos programas de vacinação sobretudo em países subdesenvolvidos. A UNICEF estima que todos os anos morrem 1,5 milhões de crianças com doenças preveníveis com vacinas.
Mas nos últimos meses coloca-se ao mesmo nível a excelência das vacinas “tradicionais” com a vacinação à covid-19, como se fosse tudo farinha do mesmo saco. Não é. O hábito não faz o monge. Não é por um produto se chamar vacina que se cola logo o selo de segurança. Para a segurança da vacina da covid-19 pouco importa que todas as outras sejam seguras. Aliás, na verdade, exactamente para que a percepção das outras vacinas pelo público se mantenha elevada se mostra fundamental garantir, seguindo todos os procedimentos habituais, que as vacinas contra a covid-19 são mesmo seguras.
Portanto, uma coisa são vacinas com um histórico de segurança e efeitos benéficos (como as que são aplicadas nos programas de vacinação de muitos países); outra é querer impor universalmente uma vacina (covid-19) que ainda se encontra em testes (Fase III) e para uma doença que tem uma taxa de letalidade apenas preocupante para 15-20% da população mundial, sendo que esse grupo (os mais idosos) integra aqueles que têm maior risco de morte para todas as outras doenças.
Nessa linha, toda e qualquer pressão para se impor, agora, a vacinação obrigatória para a covid-19 é eticamente reprovável. E também eticamente vergonhosa. Reprovável porque ainda estamos numa fase de testes de segurança, e nada justifica que se esteja a colocar o carro à frente dos bois, trocando a avaliação individual do risco (eu optaria já por me vacinar se tivesse mais de 70 anos ou comorbidades de elevado risco) por uma imposição. E vergonhosa, porque nunca se viu similar preocupação das “gentes” para se vacinarem, contra muitas doenças preveníveis, as tais crianças de países subdesenvolvidos que morrem ingloriamente.
Isto mais uma vez a propósito da postura da nossa Imprensa, e particularmente do Público, que continua no lamentável papel de manipulador de massas. Uma sentença do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos aplicada exclusivamente à vacinação obrigatória de doenças infantis (considerada segura há muito) na República Checa serve como argumento para se poder impor a vacinação obrigatória à covid-19 nas actuais circunstâncias. Misturam-se alhos com bugalhos, apenas porque ambos têm origem vegetal. Manuel Carvalho, que foi durante muitos anos um excelente jornalista da área da Agricultura, continua agora como director do Público a cavar, a cavar a sepultura deste outrora bom jornal. RIP.