
Pedro Almeida Vieira | Engenheiro Biofísico e Economista


Aquilo que se está a passar na Hungria – que não é propriamente um modelo de direitos humanos – mostra como estamos a guindar por caminhos perigosos.
Para quem não sabe, a Hungria é o país mundial que, actualmente, apresenta maiores valores de mortalidade atribuída à covid-19. Neste momento tem 2.895 óbitos por milhão de habitantes. A doença praticamente só apareceu em Outubro, e a chamada “primeira vaga” na Primavera do ano passado não teve qualquer expressão no Leste da Europa.
O mais curioso da evolução da mortalidade total (todas as causas) é que só a partir da semana 9 de 2021 (Março deste ano) existe uma clara subida face aos anos anteriores, muito em contraciclo com o que se passou, por exemplo, em Portugal.

Entretanto, a Hungria é, neste momento, o terceiro país com maior taxa de vacinação contra a covid-19, com 61,8% da população já com uma dose, apenas atrás do Reino Unido é Malta. Apesar disso, continua com mortalidade elevadíssima (172 óbitos diários por 10 milhões de habitantes), enquanto Portugal está praticamente sem mortalidade com cerca de metade da população vacinada (cerca de 33% com pelo menos uma dose). Tudo um pouco estranho.
Bom, mas a questão essencial é que os 61,8% dos húngaros já vacinados – e deduzo que vão caminhar para os 100% – têm agora a possibilidade entrar em refeitórios internos, hotéis, teatros, cinemas, spas, academias, bibliotecas, museus e outros locais recreativos. Com o cartãozinho. Os estabelecimentos comerciais que deixarem entrar pessoas sem cartão de imunidade receberão pesadas multas.
Ah, o cartão tem um chip. A vacina, obviamente, não tem.
Estão a imaginar a base de dados extraordinária que o Governo de Viktor Órban vai ter para saber ao pormenor ínfimo quem está aonde e por onde cirandou… E isto a bem da saúde, claro! E depois digam que não avisei.