Sexta-feira, Setembro 22, 2023
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DA CARTA ABERTA AO DIRECTOR-ADJUNTO DO POLÍGRAFO QUE NÃO GOSTA DE SER POLIGRAFADO (E TAMBÉM AO DIRECTOR) – Pedro Almeida Vieira

Pedro Almeida Vieira | Engenheiro Biofísico e Economista

Pedro Almeida Vieira

[Olhem, incréus, para o que ele diz, não olhem para o que ele faz.]

Poucos dias depois da “visita” ao meu mural do Doutor AUTO-DE-FE, leia-se Fernando Esteves, surgiu-me ontem Vossa Senhoria, Frei ‘Tomás’ Sampaio – Gustavo Sampaio de nominata secular -, pela calada da noite, a dizer de sua justiça sobre o meu post intitulado “Da máquina de encher chouriços com estagiários chamada Polígrafo” (vd. aqui: https://bit.ly/3eQcSX0):

Tal como o Doutor AUTO-DE-FE, julgando ser uma heresia criticar o Polígrafo, veio Vossa Senhoria também zurzir ao melhor estilo da arruaça (vd. imagem em baixo), acusando-me de “obsessão patológica” sobre o V. sacrossanto fact-checking, do qual, me dizem, é uma espécie de director-adjunto.

Presumo que, para Vossa Senhoria, a minha “obsessão patológica” seja a de apontar erros, manipulações, incongruências, disparates, ignorâncias e um sem-fim de disparates publicados pelos colaboradores do Polígrafo, tudo isto inqualificável num site de “fact-checking”, que se mostra incapaz de olhar para além do umbigo.

Presumo ainda que a minha “obsessão patológica” seja a de denunciar uma oportunidade perdida em terras lusitanas na nobre função de verificação de factos, que em Portugal, através de Vossas Senhorias, foi assumida claramente por pessoas sem pergaminhos no jornalismo, de seriedade questionável e, hélas, aproveitando-se sobretudo de estagiários sem competências nem experiência, que nem álgebra sabem, e muito menos perquirir com base em artigos científicos.

Ora, mas noto também, com apreço, que Frei ‘Tomás’ Sampaio se incomoda com o meu bem-estar – pelo meu suposto estado de “obsessão patológica”, recomendando-me cuidados médicos. Fique descansado. Estou bem de saúde, apesar do pânico promovido também pelo Polígrafo nos últimos meses. Não estou obcecado. Se estivesse, então não tinha criticado só meia-dúzia de vezes as análises estapafúrdias do Polígrafo. Tinham sido muitíssimas mais. Tenho sido comedido. Em quase todos os dias, as obras e desgraças de Vossas Senhorias mereciam uma análise demolidora. Tenho-me contido.

Na sua contestação, Frei ‘Tomás’ Sampaio, denoto-lhe o habitual modus operandi do Polígrafo: o rigor e seriedade são flexíveis, plásticas, moldáveis, gelatinosas, sem coluna vertebral. Parte, assim, Vossa Senhoria para o vitupério simples e para o ataque de carácter, que são formas extraordinárias de denegrir quem não se consegue contrariar com factos. Ontem, esperaria eu que Vossa Senhoria me corrigisse os dados que apresentei, que explicasse como mais de metade das análises do Polígrafo é feito por estagiários e 20% são anónimas. Mas não. Nanja. Nada. Não fez isso. Preferiu a injúria e difamação, apenas. E atirou pó.

Por mim, prefiro a análise, e por isso vamos lá analisar os seus ataques, à laia de “fact-checking” – sim, porque Vossas Senhorias não têm o monopólio dessa função. Diz Vossa Senhoria que “não há um único estagiário do Polígrafo, todos trabalham a contrato”. Ora, quer fazer-me de parvo ou fazer todos de parvos – como, aliás, o Polígrafo costuma fazer em muitas das suas análises. Como bem sabe, o estatuto de estagiário no jornalismo – com uma duração de 12 ou 18 meses, consoante a formação – é independente do vínculo laboral: é uma condição que é demonstrativa da inexperiência de um jovem jornalista e da necessidade de apoio na sua formação complementar.

Não é ter um contrato que concede experiência. A carteira e o título de jornalista-estagiário não são um pro forma: são questões fundamentais reguladas pela Comissão da Carteira Profissional de Jornalistas (CCPJ). E pela ética, mas isso estará arredado dos conceitos de Vossa Senhoria.Vossa Senhoria entende, mas não quer mostrar que entende, onde eu quero chegar quando critico o uso de jornalistas-estagiários: meter pessoas com pouca experiência a fazer mais de metade das análises de fact-checking do Polígrafo, extremamente complexas, exigindo conhecimentos multidisciplinares, e uma ponderação e maturidade elevadas, é um acto “criminoso”, deontologicamente deplorável, e meio-caminho (ou caminho inteiro) para o disparate. Já fui apontando muitos. Existem muitos mais. A inexperiência das análises dos jornalistas-estagiários, o seu desconhecimento de muitas matérias, “cheiram-se” a milhas.

Escrevem até, na generalidade, bem, mas isso é um detalhe pouco relevante no fact-checking. E quanto a si, meu caro Frei ‘Tomás’ Sampaio, sei que se autodenomina “jornalista de investigação” no FB – coisa que, para si, deve ser sinónimo de deter uma boa agenda telefónica de políticos –, mas digo-lhe que investiga mal. Ou nada, o que ainda é pior. Diz-me então Vossa Senhoria que eu tive uma “breve carreira jornalística de que não há registo público”. Parvoíce pegada, que mostra mais uma vez o rigor dessa sua “capela” chamada Polígrafo. Tive uma “breve carreira jornalística”? Talvez, embora de 15 anos, mas a brevidade foi pródiga: deu para escrever dezenas de reportagem de investigação na Grande Reportagem – que, pela sua juventude, nem sequer deve saber o que era, mas posso dizer-lhe que não escreveu lá quem queria, mas sim quem podia, ou seja, quem era bom –; deu para publicar cerca de cinco centenas de artigos no semanário Expresso; e deu para mais umas quantas centenas de reportagens e trabalhos de investigação jornalística na Forum Ambiente, Ozono, Diário de Notícias, Focus, Sábado, Notícias Sábado (NS), etc.. Ainda fui membro do Conselho Deontológico do SJ.

“Não há registo público” da minha passagem pelo jornalismo? Bom, eu sei que para si tudo é efémero, e a sua memória é similar à da gambúzia, mas relembro que, como jornalista, recebi três prémios e uma menção honrosa por jornalismo de investigação desenvolvido no Expresso, na Grande Reportagem, na Ozono e na NS. Recebi prémios monetários por todos esses galardões, ao contrário do Polígrafo que teve de pagar para poder receber prémios. Também fui galardoado, pelos meus trabalhos jornalísticos, com o Prémio Nacional de Ambiente Fernando Pereira, em 2003. E até em 2010, já quando estava em processo de abandono do jornalismo, fui nomeado para a categoria de Comunicação do Prémio Rock in Rio Atitude Sustentável. Participei também em documentários premiados. Não tenho notícia de nenhum prémio de jornalismo recebido por Vossa Senhoria durante o seu trajecto profissional. Uma injustiça para tanta excelência de um “jornalista de investigação”.

E por falarmos em investigação, falemos então de livros de investigação: eu escrevi em 2003 “O Estrago da Nação”, nas Publicações Dom Quixote (não foi numa chafarrica), que então (re)inaugurou a colecção Cardernos DQ Reportagem (editada pelo verdadeiro jornalista de investigação José Vegar), e que não terá sido assim tão mau, porquanto foi considerado por dois críticos literários do Expresso como um dos 10 livros de não ficção daquele ano (2004), e até regista uma vintena de citações em trabalhos académicos; e depois. em 2006, publiquei o “Portugal: O Vermelho e o Negro”, também na Dom Quixote, sobre incêndios florestais, que, apesar da linguagem não-técnica, foi também citado em mais de uma trintena de trabalhos ou artigos académicos. Esta obra ainda vai vendendo umas dezenas de exemplares por ano, agora que está a fazer 15 anos de edição. Terão os seus livros, Frei Sampaio, deixado similar lastro?

Frei ‘Tomás’ Sampaio, noto que também escreveu que “até começar a ser recorrentemente insultado” por mim – e lamento que Vossa Senhoria julgue que crítica e insulto sejam sinónimos – nem sabia da minha “existência”. Imagino que não. Nem precisa. Ou melhor, talvez precisasse, porque assim evitaria ser tão pedante – típico de um jornalista ignorante – e prescindia de ser envergonhado num confronto. Eu não aprecio particularmente puxar dos galões entre jornalistas – pese embora não tenha activa a carteira profissional, considero-me ainda jornalista (sou, mas não estou) –, mas, Frei ‘Tomás’ Sampaio, Vossa Senhoria merece ser comparado.

Caramba, Frei ‘Tomás’ Sampaio, veja bem aquilo que tem para mostrar: Vossa Senhoria só possui uma mal-amanhada licenciatura em Jornalismo, e nem sequer teve artes para acabar um mestrado em Ciência Política. Caramba! Enxergue-se, homem. Informe-se, e tenha tento na língua – ou preciso de lhe meter “pimenta na língua”? Caramba, acha Vossa Senhoria que alguém com os seus pergaminhos não pode ser analisado por uma pessoa que, além de vasta experiência jornalística (Expresso e Grande Reportagem chegam?), escreveu ensaios e até romances (em boas chancelas), e possui uma licenciatura em Engenharia Biofísica, uma licenciatura em Economia e mais uma licenciatura em Gestão – que está por duas vezes no Quadro de Honra do ISEG – e que tem ainda um mestrado de Gestão e Conservação dos Recursos Naturais, além de estar a desenvolver um doutoramento em Políticas Públicas, para o qual receberá uma bolsa de mérito do ISCTE? Caramba: não sou um Einstein, bem sei. Mas, ao pé de si, nem sei o que lhe poderei dizer… Ah, já sei: tenha dó de si!

Por fim, não se preocupe com a minha saúde mental – nem com os meus aposentos, em especial com a já minha “famosa” cave, informação errada, como já é habitual no Polígrafo, transmitida pelo Vosso Especialista Cerqueira – nem com a minha rapidez em elaborar análises rigorosas (e certeiras, não é, Frei ‘Tomás’ Sampaio?) sobre o Polígrafo. Para um jornalista traquejado, aquele levantamento das autorias faz-se em 15 minutos, o gráfico em dois. Fiz aquilo depois de ter visto o Benfica a ganhar ao Sporting, acompanhado de cerveja e tremoços. depois de um passeio pedonal, depois de uns telefonemas, depois de umas conversas de amigos, depois do jantar. Bem sei que Vossa Senhoria demoraria um dia a fazer aquele levantamento, e se calhar errava nas contas. Mas não julgue os outros por si, nem veja nas suas premências de apoio psicológico uma necessidade universal.

Adenda primeira – Touché em relação à edição (adição) de acertos na página da Wikipédia com a minha informação biográfica. Confesso que já lá meti algumas referências, porque enfim me facilita a vida sempre que alguém me solicita uma nota biográfica, sobretudo por causa da minha actividade literária. Peço desculpa por esta opção “degradante” (palavras suas, Frei ‘Tomás’ Sampaio), que se deve ao facto lastimável, para si, de ter escrito quatro romances, três livros de narrativas, três contos em antologias, seis livros/ensaios na área ambiental e ainda feito a edição científica do primeiro romance moderno português, “operação” que me deu direito a uma menção honrosa do prestigiado Prémio Grémio Literário… Bom, mas também acredito que a sua nota biográfica que consta no Polígrafo (ou na badana dos seus livros) tenha sido escrita por si… ou pelo menos revisada, não? Ou terá sido a mãezinha?

Adenda segunda – O seu longo e agastado comentário, tal como o do seu amigo director, Fernando Esteves, acaba por constituir um elogio ao meu rigor. Decerto que Vossas Senhorias já me teriam pespegado o acinte de FALSO em algum dos meus escritos se encontrassem algum erro mínimo, como fizeram a muitos, para os calarem. No entanto, tenho reparado que, por vezes, o Polígrafo já se marimba para a verdade, e diz que é falso aquilo que verdadeiro é. Por isso, aproveito esta oportunidade para uma recomendação: se abordarem algum dos meus escritos, estejam à vontade, mas revejam meticulosamente a vossa análise antes da publicação…

Adenda terceira – Considerem-me o vosso fact-checker. Vossas Senhorias estão mal-habituadas. Aquilo que faço, e farei ainda mais, e de forma manifestamente intencional, sem rodeios nem subterfúgios, é fact-checking ao Polígrafo. Vossas Senhorias merecem e precisam. Se Vossas Senhorias consideram isso “obsessão patológica (…) degradante para quem assiste a partir de fora”, é porque nem sequer têm noção de uma democracia nem querem saber da nobre função de verificador de factos. A patologia está, lamentavelmente, do vosso lado. E ao nível da psicopatia.

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