
Pedro Almeida Vieira | Cidadão



Dies Solis
09/05/2021
DA ÍNDIA NA EUROPA / Anteontem, morreram 2 pessoas em Portugal por covid-19 (ou com causa atribuída ao SARS-CoV-2). Proporcionalmente, foi como morrerem 254 pessoas na Índia. Melhor explicando, se a situação actual da Índia fosse similar a Portugal, então seria expectável que morressem 254 pessoas naquele país asiático, uma vez que tem quase 1,4 mil milhões de habitantes, e nós apenas pouco mais de 10 milhões.
Fiz, entretanto, o mesmo exercício para uma grande parte dos países europeus – estimando assim quantos óbitos-covid atingiriam caso tivessem a mesma dimensão da Índia.
Pois bem, se a covid-19 continua mesmo por aí, e se a vacina contra a covid-19 tem assim uma eficácia tão extraordinária, alguém me explique então porque motivo anteontem – dia em que morreram 4.133 indianos por covid-19 e foi um ai-Jesus para a imprensa – parece não se ter passado nada em países como Polónia, Hungria, Croácia, Ucrânia, Eslováquia, Grécia, Letónia, Macedónia do Norte, Roménia, Montenegro, Itália, Moldávia e Bélgica?
É que todos estes países tiveram uma mortalidade relativa neste dia superior à da India, alguns deles três vezes superior.
DAS AVALIAÇÕES DO PARVÍGRAFO / O Polígrafo já nos habituou a muita coisa. Mas eu nunca páro de me surpreender. Desta vez destaque para a variante indiana do SARS-CoV-2 que, segundo o lead de uma análise de hoje, “PODE justificar o aumento exponencial do número de infetados e de mortos na Índia.” Pode… ou não.
E, portanto, na senda do alarmismo, motivo suficiente para o Polígrafo “auto-fazer” cinco perguntas sobre esta candente temática, para as quais os chefes deste “fact-checking à moda lusitana” encontraram para dar resposta uma excelente especialista em Ciência, de seu nome Marina Ferreira, jornalista-estagiária (com o título provisório TPE355 A), “licenciada em Direito pela Universidade de Coimbra e pós-graduada em Direito da Comunicação Social pela mesma instituição.” Deu os primeiros passos no jornalismo no Jornal Universitário de Coimbra – A Cabra.
A análise baseia-se exclusivamente na opinião de dois habitués do Polígrafo: Paulo Paixão (presidente da Sociedade Portuguesa de Virologia) e João Gonçalves (professor da Faculdade de Farmácia).
Artigos científicos? Nada. Não vale a pena.
Enquanto o Polígrafo mantiver esta postura de colocar jornalistas-estagiários a tratar assuntos de Ciência para efeitos de fact-checking, a sua credibilidade vale zero. E a sua idoneidade, negativa: para fazer fact-checking, tarefa de grande exigência e responsabilidade, é imoral usar-se estagiários.
Dies Lunae
10/05/2021
DO EFEITO CARONA OU DA FUGA ÀS URGÊNCIAS / Por via de influencers sanitários, grande parte deles médicos, foi sendo fomentado um estado psicológico na sociedade que redundou num paradoxal paroxismo colectivo: por medo da covid-19, muitas pessoas fugiram do único local que as poderia salvar em caso de doença súbita ou crónica, mesmo quando os sintomas indicavam risco de morte muitíssimo superior à causada pelo SARS-CoV-2. Ou seja, em determinados períodos, bem definidos, e sobretudo por causa de “apelos alarmistas”, muitas pessoas fugiram literalmente dos hospitais por medo e pânico. Preferiram “aguentar” em sofrimento, na suposta segurança da casa, do que ir ao hospital. Resultado: não se salvaram vidas; mataram-se pessoas.
Indivíduos como Gustavo Carona, Filipe Froes, Carlos Antunes, Ricardo Mexia, e outros que tais, mais não fizeram, durante meses, do que, aproveitando-se da falta de transparência na informação do Estado, criar ficções catastrofistas em torno da pandemia. E isto sabendo eles, ou pouco se importando se era verdade, que os serviços clínicos destinados à covid-19, mesmo com alguma pressão, nunca estiveram saturados, em praticamente todos os hospitais e em todos os momentos. Pode ter havido colapso – e houve -, mas sobretudo por problemas de gestão, de logística e de planeamento político.
Como azeite em água, a verdade revela-se. Com o surgimento de alguma informação, ainda escassa, das taxas de ocupação das enfermarias-covid e das UCI-covid durante a pandemia, mostra-se finalmente que aquelas pessoas apenas mentiram, mentiram, mentiram. Estiveram a soldo de uma Narrativa.
E não satisfeita, foi esta gentinha acicatando as hostes sobre quem contrapunha sobre a necessidade de olhar para a pandemia numa óptica global de Saúde Pública e de gestão de recursos. Fizeram isto com dolo, com coordenação, com clara e evidente intenção. Esta gentinha olhou apenas para o umbigo: e sente-se satisfeita. E dorme satisfeita, recolhendo “louros” e outras prebendas. Pouco lhes importam as mortes que indirectamente causara.
Este efeito de fuga aos hospitais – que chamarei Efeito Carona, em “homenagem” ao anestesiologista Gustavo Carona -, é muito visível nos gráficos que apresento da evolução da afluência ao Hospital Pedro Hispano, onde o dito exerce. A afluência mensal nas urgências pré-pandemia rondava as 7.175 visitas. Existem neste hospital dois períodos de claro Efeito Carona (pelo menos um deles fomentando pelo dito Doutor Carona): entre Março e Maio de 2020 (visitas ficaram abaixo das 6.000) e sobretudo a partir de Novembro de 2020 com um período de maior quebra em Fevereiro de 2021. Neste último mês, com apenas 4.615, as visitas totalizaram apenas 70% da média dos quatro anos anteriores. Em Janeiro, que teve uma intensa vaga de frio, as urgências do Pedro Hispano tiveram uma quebra de 20%.
Quantas das pessoas de Matosinhos e arredores que fugiram com medo às urgências terão morrido por causa das declarações de Sua Excelência o Doutor Full HD?
DO POLÍGRAFO A APAGAR AS SUAS PRÓPRIAS MENTIRAS (sem pedir desculpa) / No dia 2 de Abril denunciei aqui que o Polígrafo – o bastião do fact-checking ao serviço da Narrativa Pandémica – exultava ser a plataforma mundial de ‘verificação de factos’ mais premiada, citando mesmo, com aspas e tudo, o Poynter Institute. Era mentira.
O Poynter Institute existe, mas nunca houve um ranking e, na verdade, os galardões que o Polígrafo amealhou foram quase todos (7/9) da Meios & Publicidade, uma empresa que “fabrica” largas dezenas de prémios, para todos os gostos e feitios, ao preço de 150 euros a candidatura, mas com um conveniente desconto de 30% se forem 10 ou mais candidaturas. Ou seja, com algum investimento (monetário e não tanto de excelência no trabalho), e bom marketing, ganha-se currículo num instante.
Pois bem, sem qualquer pedido de desculpa, o Polígrafo fez eclipsar, apagou, a menção ao inexistente ranking mundial e à apócrifa frase do Poynter Institute.
Portanto, estamos conversados sobre a credibilidade do Polígrafo.
Dies Martis
11/05/2021
DA MUTAÇÃO / Se o SARS-COV-2 fosse verde em vez de vermelho, o Sporting nunca seria campeão. Assim, como é vermelho, só se grudou nos jogadores do Benfica. Injusto. Esperemos pela devida mutação para que, com nova variante, o campeonato português siga para a normalidade.
Dies Mercurii
12/05/2021
DOS VENDILHÕES / Sabe como ganhar a vida sem ética? Eu digo-lhe como.
P.S. Da próxima vez que mudar de lentes vou garantir que não são Zeiss. O marketing é uma faca de dois gumes.
DO SEGUNDO MILAGRE PORTUGUÊS, MY ASS, OU DA TRISTE HISTÓRIA DO PIOR PAÍS DA EUROPA OCIDENTAL QUE VIVE DE ILUSÕES E PATRANHAS / Começou já a Narrativa Oficial da comunicação social, a engraxar as botas do Governo, e também dos “especialistas”, sedentos entre fazer anúncio na ZON e na ZEISS ou encontrar “tacho” compatível: fala-se agora em segundo milagre português, porque supostamente o líder-supremo António Costa, mais Temido & Cabrita, e o mais que houver, foram XPTO e tal no processo de desconfinamento.
São Pedro & meteorologia, nada a ver. E muito menos, enfim, o morticínio de Janeiro (em parte pela gestão caótica dos hospitais e de os idosos chegarem ao Inverno decrépitos de um ano de SNS suspenso). Quem morreu, lá vai, não é? E se se morreu em Janeiro, não se vai morrer de novo em Abril ou Maio, certo? E por isso, nada melhor do que meter uma pedra no Inferno de Janeiro e glorificar os feitos políticos de Maio…
Mas a memória, enfim, e a Estatística, enfim, são uma chatice. E por isso há por aí muita gente que me odeia.
Se considerarmos os 27 países da União Europeia (UE-27), e padronizarmos à nossa população, para o ano de 2021, Portugal é o quinto pior país em mortalidade atribuída à covid-19 (até 11 de Maio), sendo o pior da Europa Ocidental. Tivemos 10.002 mortes, ou seja, mais 63% de mortes do que a Espanha, mais 130% do que a Suécia… Bom, façam as contas.
Milagre, não é?
Ah, já agora: a memória. Em Abril do ano passado, o Doutor N elogiava Portugal e a República Checa pelo sucesso na rapidez de medidas – lockdowns, claro. Está a ver-se o resultado: depois de uma Primavera e Verão de 2020 em calma, a República Checa é, neste momento, o segundo pior país a nível mundial desde o início da pandemia (apenas atrás da Hungria) e está a ser o segundo pior na UE-27 desde o início de 2021.
Fonte: Worldometers (dados de mortalidade) e Eurostat (população).
Dies Jovis
13/05/2021
DOS CUIDADOS INTENSIVOS / Uma das coisas que mais lamentei ao longo dos meses da pandemia foi a intencional omissão dos médicos intensivistas e outras especialidades em esclarecer, de forma clara, que as unidades de cuidados intensivos (UCI) não resultavam, necessariamente, na intubação de doentes. Uma parte substancial das pessoas em UCI estavam nos denominados cuidados intermédios, que constituem o nível III. Em alguns períodos, cerca de 200 das pessoas em UCI não estavam entubadas (vd. gráficos de fonte oficial de todo o país entre meados de Outubro de 2020 e Abril de 2021)
Também não explicavam as razões clínicas para a existência de um menor número de doentes idosos (que estavam constituíam o “grosso” dos internados em enfermaria.
Nem sequer contextualizavam a “prevalência” dos doentes em função das idades. Por exemplo, no dia 23 de Novembro, 35% dos internados tinham mais de 80 anos, sendo que este grupo representa apenas cerca de 6% da população portuguesa. E estavam apenas 13 pessoas com menos de 20 anos internadas (nenhuma então em UCI), ou seja, 0,4% dos internados de um grupo que representa cerca de 20% da população portuguesa.
Enfim, preferiu-se alarmar a informar… o que é de lamentar. Até porque foi, por opção, intencional. Com dolo.
Dies Saturni
07/05/2021
DA INUTILIDADE DO “STAY AT HOME” E DOS “LOCKDOWNS” / As chamadas medidas não-farmacológicas, com vista à redução de aglomerações, foram úteis para reduzir as infecções por SARS-COV-2? Foram sim.
E o Stay The Fuck Home obrigatório e os lockdowns, incluindo restrições horárias? Foram medidas vantajosas ou serviram apenas para alimentar a paranoia colectiva e dar cabo da Economia e da vida de largas franjas da população?
Uma equipa de investigadores, incluindo John Ioannidis, o mais reconhecido epidemiologista mundial, analisou o impacte de medidas mais restritivas (M+R) implementadas em oito países (Reino Unido, França, Alemanha, Irão, Itália, Holanda, Estados Unidos e Espanha) e comparou com os resultados obtidos na Suécia e na Coreia do Sul, que optaram por medidas muito menos restritivas e sobretudo recorrendo às recomendações (M-R).
Eis as conclusões (vd. texto original no terceiro printscreen) que nunca a Imprensa noticiará, que jamais Públicos e pasquins similares revelarão e que nunca Polígrafo e parvígrafos congéneres aceitarão:
“Em resumo, não conseguimos encontrar evidências fortes que apoiem um papel relevante das medidas não-farmacológicas mais restritivas no controlo da COVID no início de 2020. Não questionamos o papel de todas as intervenções de saúde pública, ou das comunicações coordenadas sobre a epidemia, mas não conseguimos encontrar um benefício adicional na estratégia de pedidos para se ficar em casa (stay at home) e no encerramento de negócios. Os dados não podem excluir totalmente a possibilidade de alguns benefícios. No entanto, mesmo que existam, esses benefícios podem não corresponder aos inúmeros danos dessas medidas agressivas. Intervenções de saúde pública mais direcionadas que reduzam mais efetivamente as transmissões podem ser importantes para o controlo futuro da epidemia sem os danos de medidas altamente restritivas.”
Link do artigo: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/eci.13484
DA IMPRENSA A IR ATRÁS DO FAROL XXI / Em 30 de Abril escrevi um artigo bem desenvolvido e documentado no Farol XXI destacando que nunca houvera tão poucos nascimentos num mês como em Janeiro de 2021. Fui investigar até aos Censos de 1864… Poupei trabalho aos jornalistas da Lusa e ao Público que acordam agora para o tema do impacte da gestão da pandemia na natalidade… Duas semanas depois, e com tantos jornalistas por aí, lá se debruçam sobre tão “irrelevante” assunto. Estimo que Portugal venha a ter em 2021 menos 15 mil nascimentos do que no ano anterior à pandemia (e mesmo em comparação com 2020 já que a quase totalidade das crianças nascidas foram concebidas antes do primeiro confinamento).