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NOVELA “POLÍGRAFO” (05/12) – DA OPACIDADE DE UM ALBERGUE ESPANHOL

Pedro Almeida Vieira | Economista e Engenheiro Biofisico

Pedro Almeida Vieira

A recente alteração da estrutura societária do Polígrafo veio relevar a importância nesta plataforma de verificação de factos da algo opaca Emerald Group, para usar eufemismo.

Desde o início deste ano, com a saída da Conta-me Histórias, Lda. – da dupla de antigos jornalistas Ricardo Fonseca e João Paulo Vieira –, a empresa detentora do Polígrafo ficou apenas nas mãos de dois sócios: Fernando Esteves, o seu director, e N’Gunu Noronha Tiny, advogado são-tomense, conhecido pelas fortes ligações empresariais a Angola e à família de José Eduardo dos Santos. Ocupou mesmo o cargo de presidente do Banco Postal de Angola entre Setembro de 2016 e Março de 2018. Esta instituição financeira seria encerrada compulsivamente e com efeitos imediatos pelo Banco de Angola no início de 2019 (vd. aqui).

N’Gunu Tiny – que se licenciou em Direito com distinção na Universidade Nova de Lisboa – continuou as suas boas relações empresariais, tanto em Angola como no Dubai, onde em 2013 criaria uma holding – a Emerald Group – com três subsidiárias: a Emerald Investments, a Emerald Capital e a Emerald Resources. Saber em concreto o que estas empresas fazem não é fácil, porque no mundo financeiro o segredo é a alma do negócio. Em todo o caso, no site da Emerald Group refere-se o seguinte: “O Conselho de Administração do Emerald Group é composto por profissionais reputados, com ampla experiência e profundo conhecimento em relação às diferenças culturais, legais, políticas e socioeconómicas dos países em que operam. Estes gestores que gastaram mais de um total de 120 anos no seu conjunto de esforços combinados em África e nas suas relações e parcerias estratégicas com decisores relevantes, empresários locais e Presidentes das Comissões Executivas de empresas públicas e privadas proporcionam um acesso privilegiado para canalizar oportunidades de investimento únicas e assegurar um crescimento sustentado” (vd. aqui).

Embora nunca tenha quebrado a sua ligação a Portugal desde os tempos de estudante (1997-2002), N’Gunu Tiny começou a ser falado a partir de 2018. Em Setembro desse ano entra como sócio na Optimal Investments, uma consultora que tem à frente, entre outros, José Maria Ricciardi (ex-BESI). Um pouco antes, N’Gunu Tiny terá adquirido uma sociedade imobiliária em Cascais com capital social de 500 mil euros.

Porém, seria a sua entrada no capital social da empresa detentora do Polígrafo que chamou maior curiosidade sobre si. No início, a sua acção aparentava apenas ser benemérita e simbólica: a Emerald Europe – então criada em 2018 – tinha apenas um capital social de 10.000 euros, e entrou com uma quota de 21% na Inevitável e Fundamental, Lda. (a empresa do Polígrafo), embora se ignore (ainda) o investimento que terá feito na plataforma de fact-checking de Fernando Esteves, com ligação semanal à SIC.

No entanto, este ano, em Março, em simultâneo com a saída da Conta-me Histórias Lda. – por razões de orientação empresarial entre os seus sócios e Fernando Esteves –, a Emerald Europe de de N’Gunu Tiny veio reforçar o seu papel na empresa do Polígrafo, embora de uma forma estranha.

Com efeito, na nova estrutura societária, Fernando Esteves passou a deter 60% do capital social (de apenas 5.000 euros) do Polígrafo, mas apesar da Emerald Europe assumir uma posição minoritária teve direito a indicar o gerente único: Raúl Bragança Neto, sobre quem escrevi ontem.

Ainda mais estranho, Fernando Esteves passou a ser sócio da Inevitável e Fundamental, Lda. (dona do Polígrafo) não individualmente (como até este ano), mas por via de uma empresa criada em Outubro de 2020: a Episódio Inédito – Unipessoal, Lda. com apenas 1 euro de capital social, apesar do seu ambicioso objecto social (vd. imagem). Em suma, a Emerald Europe domina a estratégia do Polígrafo, mas Fernando Esteves assegura 60% dos lucros. No entanto, é por demais evidente da dependência financeira e económica do Polígrafo perante a N’Gunu Tiny.

Entretanto, em Março deste ano soube-se que N’Gunu Tiny adquiriu a Isabel dos Santos (filha do antigo presidente de Angola) a licença da revista Forbes para Portugal e PALOP, estando esta revista sob domínio da Emerald Europe, e liderança executiva também de Raúl Bragança Neto.

E aqui algo mais estranho ainda, mais: no site da Forbes Portugal surge como endereço do editor, da redacção e da publicidade a Avenida da Liberdade, 245 – 3º andar, em Lisboa. Na verdade, faltará a letra A, que corresponde à sede social da Emerald Europe Lda. (até porque este andar tem várias salas).

Contudo, este endereço na Avenida da Liberdade aparente ser somente uma fachada empresarial – uma espécie de “apartado de luxo”, por ser de uma artéria nobre da capital portuguesa. Com efeito, com sede na Avenida da Liberdade, 24 – 3º A confirmei no Portal da Justiça que, além da Emerald Europe Lda., temos as seguintes empresas (cansei de procurar mais) com as mais variadas proveniências, sócios e objectos sociais:

1 – 100 Polémicas, Lda.

2 – Alçados & Volumes, Lda.

3 – Aristomaneuver, Lda.

4 – Arualkalen Design, Unipessoal Lda.

5 – Atalhos Exemplares, Lda.

6 – Através dos Números, Lda.

7 – Capvilla, Lda.

8 – Casualsearch, Lda.

9 – Colina Cintilante, Lda.

10 – Couceiro & Gonçalves, Lda.

11 – Copacabana, Unipessoal Lda.

12 – Critériocomum, Lda.

13 – Demigunis, Lda.

14 – Discoverycircle Unipessoal, Lda.

15 – Edeluc – Estudos e Projectos de Investimento, Unipessoal, Lda.

16 – Empibased, Lda.

17 – Exemplar Matters – Unipessoal, Lda. (dissolvida em 2021)

18 – French Star – Produção e Investimento Unipessoal, Lda.

19 – Giftbuildings – Gestão Integrada e Técnica, Lda.

20 – Gowgelo – Gestão de Empresas, Logística e Operações, Lda.

21 – Life Juice, Lda.

22 – Meridian Atrium, Lda.

23 – Mermaidconquest, Lda.

24 – Raindoors, Lda.

25 – Raizoblíqua, Lda.

26 – Regularfields, Lda.

27 – Scalexhibition, Lda.

28 – Wisdow Reference – Empreendimentos Imobiliários, Lda.

29 – Yellowtropical, Lda.

30 – Yokana Patricia & Cordeiro, Lda.

Enfim, é neste “albergue espanhol” que o Polígrafo – que se quer candidatar a verificador da “verdade” na Era Digital – está agora metido até ao tutano.

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