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NOVELA “POLÍGRAFO” (07/12) – DO CADASTRO E DA AZIA DE UM “GENTLEMAN”

Pedro Almeida Vieira | Economista e Engenheiro Biofisico

Pedro Almeida Vieira

Ser jornalista é uma profissão de risco. Incomoda muita gente, sobretudo quando se faz investigação e denúncia. Nos anos em que fui jornalista na Grande Reportagem, no Expresso e em outros OCS, muitas foram as ameaças de processos judiciais; duas foram concretizadas, por sinal de presidentes de autarquia (Benavente e Amarante), cujos encargos com advogados e custas judiciais não lhes pesam na carteira. No primeiro caso, o processo foi arquivado; no segundo fui a julgamento e absolvido nas calmas. Obviamente, não havia outra alternativa num Estado de Direito. Nunca deixei de fazer investigação e denúncias, mas seguindo sempre escrupulosamente duas regras: 1) se não há certeza absoluta; não se publica; 2) se há apenas indícios, investigue-se até haver certeza absoluta.

Já o antigo jornalista do efémero Euronotícias, de seu nome Fernando Esteves, certamente seguiu outra linha e pôs-se, em finais dos anos 90, em investigações tão rigorosas, tão rigorosas, tão rigorosas sobre supostos desvios de bens e dinheiro da associação Abraço, que, enfim, levou com um processo de Margarida Martins.

E depois? Bom, depois levou 3-0, a saber:

1-0 —> Perdeu o actual director do Polígrafo na primeira instância.

2-0 —> Perdeu na Relação.

3-0 —> Perdeu no Supremo, passando a ser o único condenado, com a obrigatoriedade de pagamento de uma indemnização de 12.500 euros.

Pode ter sido apenas azar, ou apenas trabalho jornalístico muito mal-feito (vou pela segunda), mas anos mais tarde, aproveitando o caso Raríssimas, veio Fernando Esteves num artigo de opinião na Visão mostrar toda a sua azia sobre o caso, um pouco a despropósito. E demonstrar que é um “gentleman” cheio de fair-play. Ou não.

Logo a abrir apresenta Margarida Martins como “uma antiga porteira de discoteca mais conhecida pelo seu perímetro abdominal do que pelos seus méritos enquanto gestora”.

Ficam-lhe muito bem estas palavras, de facto.

E depois explica porque foi condenado: “com a cumplicidade activa de jornalistas amigos a quem em tempos abrira generosamente a quase impenetrável porta do Frágil, [Margarida Martins] conseguiu convencer um juiz a condenar-me por difamação.”

Esquecendo a teoria conspirativa de Fernando Esteves – que aparentemente envolve jornalistas e juizes a beber copos no Frágil para o tramarem -, pelo que sei o tribunal de primeira instância tem um ou três juizes; um recurso na Relação passa por três desembargadores; e um acórdão no Supremo apanha três conselheiros. Portanto, ajudemos o director do Polígrafo, com cadastro por falta grave de rigor, a contar: 1… 2… 3… 4… 5… 6… 7… 8… 9! Ora, 9 é 9 vezes maior do que 1. Mesmo que tenha sido apenas um juiz na primeira instância, temos 7 juizes que não acharam que o Doutor Esteves ultrapassou os limites.

Sobre poder ele ser um gentleman: não vale a pena o esforço alheio. Não nos esforcemos a tentar que tenha boas maneiras. Nunca terá.

Link da notícia no Público da condenação por difamação de Fernando Esteves no Supremo em 2008: https://www.publico.pt/2008/02/18/portugal/noticia/supremo-condena-jornalista-a-pagar-12500-euros-por-difamacao-contra-presidente-da-abraco-1320047

Link de artigo de opinião de Fernando Esteves na Visão em 2017: https://visao.sapo.pt/opiniao/a/pos-verdades/2017-12-11-a-presidente-da-rarissimas-deviaemigrar-ja/

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