
Pedro Almeida Vieira | Economista e Engenheiro Biofisico


Sabemos bem que o Polígrafo, do escritor-fantasma Fernando Esteves, funciona com base em jornalistas estagiários que, enfim, metem água em cada esquina, porque isso de se ser jornalista, ainda mais de fact-checking, não é apenas saber juntar palavras.

Porém, o Polígrafo também tem, como editora Cláudia Arsénio, uma jornalista experiente, até galardoada há poucos anos com uma interessante reportagem (na TSF) sobre as cheias de 1967.
Mas é exactamente por Cláudia Arsénio ser jornalista experiente que me insurjo contra uma sua análise há dias no Polígrafo, porque, das três uma: ou Cláudia Arsénio precisa rapidamente de regressar à escola primária ou transformou-se em estagiária (por conviver com tantos) ou perdeu a seriedade.
Com efeito, na análise sobre a veracidade de a “mortalidade geral e por Covid-19 em julho de 2021 está em nível inferior comparativamente a julho de 2020”, Cláudia Arsénio vai às fontes oficiais necessárias: SICO (para a mortalidade total) e DGS (para os óbitos covid).
E depois verifica, muito bem, que a mortalidade total está mais baixa em Julho deste ano do que em Julho de 2020 (eu próprio já tenho escrito sobre isso)…
… mas também apura que as mortes por covid em Julho de 2021, até ao dia 20, foram 118, enquanto no ano passado, no mesmo período, foram 112. E ainda por cima Cláudia Arsénio usa negritos no seu texto para destacar ambos os números…
Ora, parece-me, enfim – mas talvez haja sumidades que venham contestar -, que o número 118 (registado em 2021) é superior a 112 (registado em 2020), porquanto entre o 112 e o 118 há uma sequência de números, a saber: 113, 114, 115, 116 e 117.
Portanto, ó Cláudia Arsénio, por amor da Santa: a mortalidade por covid-19 em julho de 2021 está em nível inferior comparativamente a julho de 2020? A sério?!

Caraças, não tens um pingo de vergonha? Ninguém releu a tua prosa antes de publicar esta aberração? Achas mesmo que a nescidade dos portugueses tudo aguenta?
E achas mesmo que, depois de demonstrares que nem sequer sabes que o 118 é um número superior ao 112, se pode dar credibilidade à tua estapafúrdia conclusão de que a eficácia da vacina na prevenção de mortes se demonstra simplesmente comparando taxas de letalidade entre os dois anos, sem sequer se analisar o perfil das pessoas “infectadas”?
Link para a “análise” (ou “coisada”) do Polígrafo.